Gostaria de ter agora um som que despencasse. Precisava nesse instante
de uma música mastigável. Que eu pudesse introduzi-la no meu corpo sem
dificuldade. Que ela passasse por todos os meus órgãos e me completasse. Que
ela fosse tão enorme que, para caber no meu corpo, precisasse expulsar todo tipo
de aperto, todo tipo de encosto. Que ela fosse tão brilhante que obrigasse a
manter os olhos fechados a todo aquele que quisesse ouvi-la. Que ela fosse, ao
mesmo tempo, tão suave, que passasse quase despercebida. Mas que ela causasse
ao seu redor e no seu interior uma mudança irreversível. Uma mudança de
proporções incalculáveis. Os pássaros então acompanhariam sua melodia. As
árvores se inclinariam para ouvir melhor e o céu espantaria as nuvens
carregadas de qualquer tipo de dor. O Sol abrandaria sua força e a Lua, na hora
certa, chegaria um pouquinho mais perto da Terra. Era preciso um som... Era
preciso isso.
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