Um relance apenas é o suficiente. Uma fresta para escancarar toda a
fragilidade de uma vida, de uma representação. Uma luz para iluminar o obscuro
da estrutura. É que o que eu via era somente uma claridade que percebi estar
além de mim. O que eu sentia descobri ser a esperança de algo que imaginava já
concreto. Em minhas mãos desfizeram-se os laços lapidados lentamente e nos meus
olhos empalideceram todas as cores que já brilhavam. Sufoquei, em minha boca, as palavras antes
ditas e neguei a simplicidade que já havia assumido. Agora volto atrás no tempo
das coisas e digo que não. Não dou conta de mim. Não dou conta de existir em
tudo que eu sou.
segunda-feira, 28 de maio de 2012
domingo, 20 de maio de 2012
terça-feira, 15 de maio de 2012
É o único jeito...
Sorri
dentro de mim a minha dor. Procuro transcrever as marcas que me faço, que me fazem, em marcas no
papel. Em letras que procuram dar vazão às sensações que me chegam por vias
impróprias e desconhecidas mesmo, e principalmente, por mim. Que é somente
assim que me vejo refletida e existindo para além, apesar de ser pelos
domínios, da fantasia.
segunda-feira, 7 de maio de 2012
Falo
dessa falta intrínseca, desse nada no peito, dessa impossibilidade de se sentir
parte. Refiro-me simplesmente ao branco na parede e ao azul no céu. Ao
labirinto dos cômodos da casa, à imensidão de uma rua, a um infinito em mim, a
um outro fora. Não quero falar de mais nada. Não quero, agora, trazer a tona
algo que não diga respeito a esta falta de ar, a esta ausência de contorno, a
este deserto ao estar junto, a esta insuficiência no olhar. Não quero falar de
mais nada que não traga consigo o limite de cada coisa, a impossibilidade de
uma completa fusão, as tentativas frustradas de se ultrapassar. Porque hoje eu,
para sempre, serei eu. E isso é o máximo da solidão.
domingo, 6 de maio de 2012
Qualquer palavra que caiba, que se acomode no silêncio e no caos de cada
formato do som. Que não me deixe abandonada na calmaria da minha confusão. Que
perdoe a solidão dos meus passos e que encontre em mim aquilo que faça
despertar a harmonia da sua composição. Qualquer palavra que assuma. Que assuma
os cargos e as faltas de sua intenção. Que assuma a falta de limites do seu
alcance. Que, ao se assumir, assuma também os meus braços e pernas e por
conseqüência impensada, não vista, assuma também a minha degradação. É só pela
palavra, maldita condição, que eu subo até mim e me deixo falar. E ainda sim, o
que fala por mim é um eu-outro que se confessa nos traços que a minha mão
procura riscar. Que me arrebenta pelos espaços vazios nos quais as letras se
infiltram sem me deixar respirar. E que me junta em cacos de mim fazendo com
que pelas frestas, alguma coisa mal feita e quebrada possa brilhar.
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