domingo, 7 de outubro de 2012

Com-tato


                E a palavra de hoje é contato.  Com tato... Com toque... Com pele. Entrar em contato é sentir que uma vibração percorre o seu corpo, escorre na sua pele. Entrar em contato é mais do que contatar, do que visualizar. O contato é o suor, é a energia, a sensação. O contato é o brilho, tem textura, tem traçado. Contato é com tato, é sem medo.
        Entrei em contato uma vez com a palavra. Eu era nova, não sabia. Não sabia que a palavra tinha corpo, tinha cheiro.  Eu não sabia que ela tinha voz, que ela gritava, sussurrava. Assumo que me assustei com o contato. Não esperava, eu era nova, já disse. E me perguntava o que será que a palavra queria comigo? E queria saber o que aconteceria dali para frente, se eu ainda poderia retroceder. 
      Percebi-me apaixonada. Dá para acreditar? Apaixonada por um risco, por um pulso, um impulso de me fazer viver. Apaixonada por uma colcha, por uma estrela, uma personagem, uma escritora, várias, vários. Eu era nova, era muito nova. E tudo era novo para mim. Qualquer olhar, qualquer página. Não aceitava que uma palavra tivesse um sentido exclusivo.
            E de repente sofri. A palavra empobrece, pensei. A palavra denigre, ela suja, ela esconde. Ela achata, corta, formata.
            Muito nova, sim. Mas eu não era nova na idade, eu era nova nas coisas, e as coisas eram novas em mim. Eu podia senti-las me transformando e eu também sentia a minha transformação se estendendo até elas.
            Não sei se perdôo as palavras. Mas é que hoje eu acho que a única forma de não falar é falando. É falando que eu vou me escondendo, me não dizendo. É preciso não se dizer, não se contar. É preciso deixar o mistério em nós mesmos falar.