E a palavra de hoje é
contato. Com tato... Com toque... Com
pele. Entrar em contato é sentir que uma vibração percorre o seu corpo, escorre
na sua pele. Entrar em contato é mais do que contatar, do que visualizar. O
contato é o suor, é a energia, a sensação. O contato é o brilho, tem textura,
tem traçado. Contato é com tato, é sem medo.
Entrei em contato uma vez com a
palavra. Eu era nova, não sabia. Não sabia que a palavra tinha corpo, tinha
cheiro. Eu não sabia que ela tinha voz,
que ela gritava, sussurrava. Assumo que me assustei com o contato. Não esperava, eu era nova, já disse. E me
perguntava o que será que a palavra queria comigo? E queria saber o que
aconteceria dali para frente, se eu ainda poderia retroceder.
Percebi-me apaixonada. Dá para
acreditar? Apaixonada por um risco, por um pulso, um impulso de me fazer viver.
Apaixonada por uma colcha, por uma estrela, uma personagem, uma escritora,
várias, vários. Eu era nova, era muito nova. E tudo era novo para mim. Qualquer
olhar, qualquer página. Não aceitava que uma palavra tivesse um sentido
exclusivo.
E de repente sofri. A palavra
empobrece, pensei. A palavra denigre, ela suja, ela esconde. Ela achata, corta,
formata.
Muito nova, sim. Mas eu não era nova
na idade, eu era nova nas coisas, e as coisas eram novas em mim. Eu podia
senti-las me transformando e eu também sentia a minha transformação se
estendendo até elas.
Não sei se perdôo as palavras. Mas é
que hoje eu acho que a única forma de não falar é falando. É falando que eu vou
me escondendo, me não dizendo. É preciso não se dizer, não se contar. É preciso
deixar o mistério em nós mesmos falar.