Mas, por favor, não me diga que não sabe. Esfregue nas paredes toda a
sua raiva, destrua as prateleiras e não se acanhe, corte todas as amarras, mas
não me diga que não sabe. Por favor, não me diga que não sabe. Não me diga que
não viu ou não sentiu nenhuma pontada. Que não ouviu todas as vozes, os gritos,
os sussurros. Arrebente sem pudor tudo aquilo que possa me cortar, não tenha
medo. Olhe nos meus olhos e grite todas aquelas palavras sem vazão, sem sentido
e sem contornos. Destrua. Reconstrua toda a lógica lapidada pelas nossas mãos
lentamente. Ou então me abrace forte e despeje sobre mim somente os dias bons e
os pensamentos fortes, mas, por favor, não me diga que não sabe. Não me deixe
perceber a sua indiferença em relação às minhas gotas de suor, à minha voz
relutante e às minhas mãos já sem coragem. Não me deixe sem resposta a qualquer
indagação sem coerência, a qualquer comentário tolo e inacabado. Permita-me
sentir a textura das palavras proferidas sem intenção e sem desejo ou então me
afunde, eu objeto desprezível e repulsivo. Mas, por favor, não me diga que não
sabe.