sábado, 23 de junho de 2012

A poeira brilhante circula lentamente o meu quarto, o meu rosto. Por ela qualquer coisa de mim se transfigura em pó. Em mim qualquer coisa dela se conecta e explode em luz. Foi também nessa poeira, nessa madeira, nesses fios de cabelo e nessas pétalas de rosa. Foi também pela tinta, pela letra, pelas capas e pelas cores. Em cada objeto que me rodeia eu existo, eu transformo. Cada objeto que me rodeia me existe, me transforma. Como então falar de desenvolvimento, de mudanças, a partir de algo? Mudanças não se dão a partir, mas sim através, em contato, atravessadas, explodindo, agenciando, multiplicando, vazando, desdobrando, transbordando. 

sábado, 9 de junho de 2012

Palavra... O que é a palavra? Um corte assombroso, um sopro de vida, um recorte no escuro. A palavra é uma escolha, mas não sendo só minha, é a escolha de um outro, é a escolha de um grupo, é a escolha de um ponto, é a escolha de um susto. A palavra é desejo. É desejo doído por se ver imperfeito. É desejo fruindo o prazer em seus dedos. É desejo querendo bastar a si mesmo. A palavra é limite. Limite que aponta o rasgo do todo. Limite que escancara a solidão de um corpo. Limite que diz de um modo de engodo. A palavra é a palavra, e isso não basta.